Lêda Pena Yoshida – Fazendo a diferença e impulsionando o sucesso.

Empreendedorismo

Educação Financeira e Empreendedorismo

Educação Financeira e Empreendedorismo

Empreender e educação financeira são duas palavras com muita sinergia. Parece até que são “irmãs gêmeas” ou mais do que isso, uma vez que andam de mão dadas; uma não avança sem a outra. Será exagero? Veremos neste capitulo os motivos dessa afirmação.
Se entendemos que educação financeira trata de comportamento e escolhas e o empreendedorismo também, já fechamos a questão que uma não se sustenta sem a outra.
Neste capitulo você vai ler os conceitos de empreendedorismo sob a ótica de acadêmicos e empreendedores de sucesso complementados pela experiência e conhecimento de quem conhece na prática o que é empreender, aliás com uma história interessante de alguém que empreendeu desde os seus cinco anos de idade.
Em educação financeira a abordagem será com ênfase em contexto de comportamento e escolhas. Então, podemos entender que educação financeira pode e deve iniciar na vida das pessoas desde os seus 3 a 4 anos de idade. Dessa forma, fará parte deste capitulo as definições sobre a implementação da educação financeira na educação básica, no Brasil.

INTRODUÇÃO
Nestes tempos, as pessoas precisam dominar uma ampla gama de atributos formais que forneçam uma compreensão lógica e perfeita das forças que afetam o ambiente e suas relações. Parte deste domínio é obtido através da educação financeira, compreendida como processo de disseminação de conhecimento, possibilitando o desenvolvimento de habilidades que permitam tomar decisões sábias e seguras, aprimorando a gestão financeira pessoal. Ao aperfeiçoar estas habilidades, as pessoas se transformam em indivíduos mais incluídos à sociedade e mais ativos no campo financeiro, melhorando seu bem-estar.

No Brasil, níveis muito baixos de poupança é um dos fatores que dificulta a formação de uma cultura de investimentos, além de taxas altas de juros e a predileção por alternativas de liquidez elevada a curto prazo. 
Estudos apontam que os brasileiros são os que menos poupam mundialmente, mesmo se comparado a países com renda mais baixa, conforme levantamento realizado pelo Banco Mundial no ano de 2014. Reforça o contexto sobre a inexistência da cultura de investimento e mostra a importância de que a educação financeira seja aprendida e praticada desde cedo, na educação básica, para que este cenário possa vir a mudar, a recente implantação da educação financeira no currículo nacional da educação básica, no Brasil.

Considerando estudo realizado recentemente pela S&P Rating Service onde o Brasil aparece na 74ª posição do ranking com144 países no índice de educação financeira, é notória a importância do ensino da mesma nas escolas, para que crianças e jovens aprendam a lidar com o dinheiro de maneira saudável, tornando-se adultos financeiramente conscientes.
    
Segundo o REL_COP_CVM (2017), as estratégias de educação financeira com direcionamento exclusivamente pedagógico não têm sido suficientes para proporcionar mudanças no comportamento financeiro de indivíduos.
A finalidade de ensinar educação financeira às crianças, é para que elas criem maturidade financeira, ou seja, consigam postergar desejos momentâneos em prol de um benefício futuro, desenvolvendo processo comportamental em fazer escolhas. Para Cerbasi (2004, p. 34), os problemas financeiros familiares decorrem de decisões ou escolhas ruins. Aprender fazer escolhas deve iniciar desde a escolha por este ou aquele brinquedo, este ou aquele doce, este ou aquele alimento etc.

Entre 2008 e 2010, foi realizado um projeto piloto, resultado de ações do Grupo de Apoio Pedagógico do Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef), que levou educação financeira à rede pública de ensino médio de alguns estados brasileiros. Essa experiência provocou mudanças na vida dos estudantes e suas famílias, proporcionando ao Brasil referência no relatório The impact of high school financial education – experimental evidence from Brasil (O impacto da educação financeira no ensino médio – a experiência do Brasil), do Banco Mundial.

Analistas do Banco Mundial verificaram o aumento de 1% do nível de poupança dos jovens que passaram pelo programa; 21% a mais dos alunos fazem uma lista dos gastos todos os meses; 4% a mais dos alunos negociam os preços e meios de pagamento ao realizarem uma compra. E assuntos como: orçamento, planejamento e taxas bancárias passaram a fazer parte das conversas e decisões em família. A conclusão do relatório traz que, o resultado aponta que jovens educados financeiramente podem corroborar para o crescimento de 1% do PIB brasileiro.

No ano de 2014 ocorreu a 1ª Semana Nacional de Educação Financeira, iniciativa do Fórum Brasileiro de Educação Financeira, que acontece anualmente e tem como objetivo promover ações de educação financeira no país.

No mesmo ano, o Conef (Comitê formado por oito órgãos federais: Banco Central do Brasil, Comissão de Valores Mobiliários, Superintendência Nacional de Previdência Complementar, Superintendência de Seguros Privados, Ministério da Fazenda, Ministério da Educação, Ministério da Previdência Social e Ministério da Justiça), sugeriu que a educação financeira fosse difundida em ações para escolas de nível fundamental e médio.

Em 2015, a 2ª Semana Nacional de Educação Financeira, teve como finalidade desenvolver o tema “Educação Financeira” em sala de aula, inserindo-o em algumas disciplinas do ensino fundamental e médio. Neste ano, a data coincidiu com a Global Money Week, evento mundial de educação financeira direcionado para crianças e adolescentes.

Já em 2018, a SENEF (Semana Nacional da Educação Financeira) ofereceu além de cursos a distância para professores, um jogo chamado “Ta O$$o” como forma de incentivar os estudantes a utilizar os recursos financeiros de maneira consciente.
É importante citar o “Programa Educação Financeira na Escola”, que forma professores da educação básica, por meio de plataforma EaD, para ensinar educação financeira nas escolas brasileiras, conforme Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Ministério da Educação (MEC).

Desde Dezembro´2018, a educação financeira está na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que indica o mínimo a ser lecionado nas escolas brasileiras, da educação infantil ao ensino médio. 

De acordo com o documento (http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/), o tópico deve ser tratado de maneira transversal, durante as diversas aulas e projetos.

Essas ações são de suma importância para que a educação financeira seja inserida na vida dessas crianças e jovens, ensinando de um jeito prático e simples como controlar os gastos, para que se tornem adultos menos endividados, possibilitando a construção de uma população financeiramente responsável, em um futuro próximo.

Sugere-se a leitura do projeto Empreender para compreender: educação financeira na prática, da professora Priscila Brandão Casado, da Escola Estadual Professor Francisco Portugal, Aracaju (SE) –
- http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/ensino-fundamental-anos-iniciais/151-empreender-para-compreender-educacao-financeira-na-pratica.

DESENVOLVIMENTO

Educação Financeira
Segundo a OCDE-ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (2005) a educação financeira deve começar na escola. As pessoas devem ser educadas sobre questões financeiras o mais cedo possível em suas vidas. Corrobora Strickland (2021): “Saber o valor do dinheiro e das coisas, planejar e ter uma organização financeira é fundamental durante toda a vida”.
Para a superintendente da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), Cláudia Forte, a educação financeira deve começar no início da vida escolar. “Afinal, é nesse espaço que damos os primeiros passos para a construção de nosso projeto de vida”.

Para Cerbasi (2009), é preciso lembrar que desde os primeiros anos de vida as crianças são expostas a uma cultura extremamente consumista e focada na acumulação monetária.  Ainda segundo Cerbasi (2011, p. 17) “começar cedo e de forma correta educar os filhos sobre dinheiro, pode diferenciar um milionário de um endividado”.

Dessa forma, é necessário criar hábitos financeiros saudáveis que as afaste do consumismo infrene estimulando-as a desfrutar dos prazeres que o dinheiro permite sem se tornarem escravos dele.
Considerando estes apontamentos, somos levados a entender o importante e profundo trabalho realizado pelo Ministério da Educação, para incluir a educação financeira na Base Nacional Comum Curricular. A BNCC instituiu que a partir de 2020, todas as escolas, sejam elas públicas ou privadas, devem adaptar-se às novas regras por ela estabelecidas, e uma das principais regras é a inclusão da Educação Financeira, que se tornou obrigatória. 
Um dos objetivos desta determinação é desenvolver no cidadão/aluno o hábito de poupar, fazer escolhas e, quando adulto tomar decisões mais conscientes e assertivas e praticando ações que o leve ao consumo consciente e uso racional e inteligente dos recursos financeiros. Vale acrescentar que segundo a OCDE (2012), para que a abordagem de educação financeira escolar seja efetiva em escala mais abrangente, é necessário que ela seja parte de uma estratégia nacional direcionada à capacitação financeira da população, e não apenas ser uma estratégia isolada.

Segundo Kioshi, autor do best seller PAI Rico PAI Pobre, o maior ativo de uma pessoa é a sua própria mente. Qualquer investimento em educação, cursos e instrução não será em vão. Para Kiyosaki e Lechter (2000, p.59) “a alfabetização financeira é como plantar uma árvore. Você rega durante anos e, então, um dia ela não precisa mais disso. Suas raízes são suficientemente profundas. Então a árvore lhe proporciona sombra para o seu prazer”. Como diz o ditado popular “quem planta colhe”.

Segundo Eker (2006), no reconhecido livro “Os Segredos da Mente Milionária”, somos ensinados quando criança a como pensar e agir com relação ao dinheiro, por meio de exemplos, falas e atitudes de familiares, amigos, professores, mídia entre outros; iniciando a formação do “modelo financeiro”, que nada mais é do que uma combinação de pensamentos, sentimentos e ações relacionadas ao dinheiro. Esses ensinamentos se transformam em condicionamento que resulta em respostas automáticas que nos acompanham durante a vida adulta, afirma o autor.

A educação financeira está diretamente ligada a atividade empreendedora, tendo em vista que a falta de conhecimento financeiro e suas ferramentas, podem levar a tomadas de decisões equivocadas, podendo ocasionar endividamento e até encerramento das atividades do empreendimento.

Segundo dados do Sebrae (2020), grande parte das empresas encerram suas atividades por gerenciamento inadequado, falta de planejamento e de conhecimento financeiro.
Um indivíduo que não pratica o planejamento financeiro pessoal, tampouco o fará em seus negócios. E essa falta de planejamento prejudicará a saúde financeira da empresa, podendo leva-la a falência. Já aquele que tem o hábito de se planejar financeiramente, geralmente tem maior propensão ao êxito ao gerir sua empresa.

O planejamento financeiro pessoal ou empresarial é composto por decisões, metas e objetivos; ambos são muito próximos, podendo haver algumas interferências na elaboração e execução de um no outro, como por exemplo, no caso de empreendedores que gerenciam tanto os recursos familiares quanto os da empresa. Por essa razão, é preciso separar as finanças pessoais das empresariais, de forma a evitar problemas financeiros e facilitar a sobrevivência da organização no mercado.

Um empreendedor financeiramente educado conduz a gestão dos recursos financeiros de maneira satisfatória, tem competência para fazer planejamento financeiro, que possibilita detectar oportunidades e tomar decisões assertivas.
Unindo o contexto de educação financeira e empreendedorismo, é de suma importância, mais uma vez, lembrar Kiyosaki Lechter (2006), numa citação do livro Empreendedor Rico “Uma das melhores definições do que seja um empreendedor é de autoria de Howard H. Stevenson, um professor da Havard University. Segundo ele, o empreendedorismo é uma abordagem à gerência que definimos como busca de oportunidades sem levar em consideração os recursos atualmente controlados” (KIYOSAKI E LECHTER, 2006). 

Segundo a ENEF -  ESTRATÉGIA NACIONAL DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA, é muito importante desenvolver a educação financeira desde cedo, pois ela prepara as futuras gerações para desenvolver as competências e habilidades necessárias para lidar com as decisões financeiras que tomarão ao longo de suas vidas.

 

Adicionando às fundamentações e conceitos até aqui mencionados ao que diz Gallery et al. (2011) "educação financeira é a capacidade de fazer julgamentos inteligentes e decisões eficazes em relação ao uso e gestão do dinheiro”, fica claro que a educação financeira faz com que o indivíduo tome decisões mais assertivas em relação às oportunidades que necessitam do dinheiro para a sua efetiva adoção e desenvolvimento. Fuld (2007) comenta que o maior desafio que a maioria dos empreendedores encara é o fato de estarem cercados de nebulosidade, rumores e distorções competitivas. Entendemos, portanto, que o conhecimento obtido por meio da educação financeira ajudará a enxergar além das nebulosidades para aproveitar as oportunidades. Posso afirmar que, no meu conceito, empreendedorismo é movimento para construir iniciando do zero, melhorar o que já existe, fazer diferente, fazer acontecer e, principalmente, olhando para o lado do bem maior de todos em sua volta. De acordo com Dornelas (2012) os empreendedores “são pessoas diferenciadas, que possuem motivação singular, apaixonadas pelo que fazem, não se contentam em ser mais um na multidão, querem ser reconhecidas e admiradas, referenciadas e imitadas, querem deixar um legado".
Adotando a premissa de que empreender trata-se de um processo, é o conhecimento prévio que auxiliará na identificação de uma oportunidade, que ocorre na primeira fase deste processo que demandará do indivíduo avaliação acurada para ter certeza se tratar de uma oportunidade efetiva. A educação financeira pode ser um “divisor de águas” neste momento, uma vez que prepara o indivíduo para fazer escolhas com vistas aos recursos que serão envolvidos nesta decisão. Vale lembrar Dornelas (2012) “ao empreender, o importante é definir uma estratégia adequada para buscar os seus objetivos. Não basta sonhar, mas o sonho é o início do processo, pois permite o surgimento de ideias, que podem ser transformadas em oportunidade pelo ato de empreender”. No entanto, ao decidir empreender deve-se lembrar da figura humana neste contexto, que possui responsabilidades familiares, pessoais e sociais. 
Empreendedorismo no Brasil
Segundo a Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas – Fenacon, a taxa de empreendedorismo potencial no Brasil teve um crescimento de 75% entre 2019 e 2020, passando de 30% para 53%. Os números fazem parte da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada pelo Sebrae, em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ). Ainda segundo a Fenacon, a pesquisa GEM 2020 mostrou que o total de empreendedores com CNPJ, entrevistados na pesquisa, passou de 26% para 44%, o maior crescimento dos últimos quatro anos; e em 2017, 15% dos empreendedores eram formalizados e, em 2018, 23%. 
Observa-se no Brasil que os brasileiros se tornam empreendedores, por dois motivos principais: por necessidade de sobrevivência diante do desemprego, ausência de alternativa para geração de renda ou de dar continuidade a um empreendimento de família devido a doença ou falecimento do dono de um empreendimento; ou por oportunidade ao identificar uma oportunidade de negócio no mercado ainda não explorada ou a visão para melhoria de processo de um negócio já existente, em seu entorno.
Conforme o Global Entrepreneurship Monitor 2017 (GEM 2017), observou um aumento na relação entre empreendedores por oportunidade e por necessidade. Em 2016 59,4% dos empreendedores iniciais empreenderam por oportunidade e 39,9% por necessidade. Também mostrou que de cada 100 brasileiros e brasileiras adultos (18 – 64 anos), 36 deles estavam conduzindo alguma atividade empreendedora, quer seja na criação ou aperfeiçoamento de um novo negócio, ou na manutenção de um negócio já estabelecido
“O Brasil fechou 2020 com o maior número de empreendedores de sua história. Não exatamente por vocação, mas principalmente por necessidade de recomposição do orçamento doméstico, fazendo crescer em todo o país a opção pelo empreendedorismo como alternativa de subsistência”. G1 (2021) - https://g1.globo.com/ma/maranhao/especial-publicitario/sebrae-maranhao/empreenda/noticia/2021/02/01/cresce-o-numero-de-empreendedores-individuais-em-todo-o-brasil.ghtml  

Há um vasto material disponível em meios eletrônicos e livros de diversos renomados autores, sobre empreendedorismo e educação financeira. Como o objetivo deste capítulo é mostrar a sinergia entre os temas Educação financeira e empreendedorismo, deixaremos os conceitos para serem pesquisados por você, leitor. A Fig1 mostra a cronologia da palavra/conceito EMPREENDEDORISMO.

Fig. 1 - EMPREENDEDORISMO – CRONOLOGIA

Período

Contexto / Autor

1680 – 1734

Assume o risco e apropria-se do lucro (Richard Cantillon)

1767 - 1832

Empreendedor diferente de capitalista (Jean Baptiste Sayl)

1883 – 1950

Agente no processo do desenvolvimento econômico (Schumpeter)

1883 – 1950

Empreendedor é inovador e desenvolve combinações novas (Schumpeter)

1883 – 1972

Empreendedorismo associado a inovação (Schumpeter; Clark; Higgins; Baumol; Schloss; Leibenstein)

1885 – 1972

Risco, incerteza e lucro (Frank Knight)

1966

Locus de controle (Rotter)

1968

Organizador do negócio e o inovador (Baumol)

1972

Necessidade ou motivo de realização, afiliação e poder. Propenso a riscos moderados (Mccelland)

1972 – 1997

Abordagem centrada no indivíduo e comportamento (Mccelland; Weber; Schumpeter)

1973

Pessoa alerta a oportunidades geradas por desequilíbrios econômicos (Kirzner)

1985

Aspectos do processo empreendedor (Gartner)

2000

Cria e desenvolve novos negócios e inovador que altera a economia (Bruyat e Julien)

2000

Entender e identificar oportunidades (Shane; Venkataraman)

2001

Effectuation (Sarasvathy)

2003 – 2015

Fatores motivacionais e cognitivos (Shane, Locke e Collins; Baron e Ward; Shepherd, Willians e Patzelt)

2009

Participa e gerencia projetos de produção (Hirsrich; Peters)

2009

Aquele que está entre (Hirsrich; Peters)

2009

Assume riscos em um contrato com o governo (Hirsrich; Peters)

2009

Empreendedor mais como empresário, diferenciando-o do capitalista (Hirsrich; Peters)

2010

Ação coletiva (Julien)


Ação coletiva (Julien)

Elaborado pela autora a partir de FRANCO, J. O. B.; GOUVÊA, J. B. A cronologia dos estudos sobre o empreendedorismo. Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, v. 5, n. 3, p. 144-166, 2016.
Apresento a você leitor, a partir de agora, um caso autoral, carinhosamente nomeado de “O olhar pela janela de uma vida”, que demonstra como empreender sem ter alicerce, não é um caminho fácil, embora possível principalmente lembrando do conceito autoral de que empreendedorismo é movimento, é fazer acontecer, porém com a educação financeira desde a infância, estes movimentos podem se tornar projetos de vida de curto, médio e longo prazo.
“O olhar pela janela de uma vida”

Fonte: Texto “O olhar pela janela de uma vida”. Yoshida, Lêda P. (2021) com ilustração de Julia Zanini Jorge (2021)
Aqui começa a caminhada da empreendedora Lili (nome fictício), que ouviu falar de educação financeira, na idade adulta, mais precisamente, após estar na fase sexagenária.
Aos 5 anos, Lili, já demonstrava sua personalidade empreendedora, quando morava em um sítio (na roça) e seu pai dava para cada filho um pedacinho de terra (talvez 5 metros quadrados) em área nada nobre. O dono deste pedacinho podia plantar o que quisesse. Lili, começa plantando amendoim e tem várias boas colheitas que lhe permite juntar um bom dinheiro, depois de colher, secar e torrar o amendoim para, então, vender para o próprio pai ou vizinhos. 

Um dia, percebe que tem um pedaço de terra, anexo da horta familiar, sem plantação e pede autorização do pai para plantar quiabo. Uma oportunidade que torna um negócio fantástico, na vida desta criança aos seus 7 aninhos. A partir deste momento, Lili passa as manhãs de domingo colhendo e vendendo quiabo para toda a vizinhança. Isto, porque onde reside (MG), o cardápio do almoço de domingo é frango com quiabo ou macarrão com frango (este último para os mais abastados). 

Assim, a Lili vai crescendo e empreendendo sem, sequer, conhecer a palavra empreender. Sabe, com muita certeza, que gera seu dinheiro para comprar roupa e material escolar. Até que um belo dia, seu pai decide se mudar para a cidade. Lili, ao mesmo tempo que fica feliz em morar na cidade, com luz elétrica e perto da escola, é acometida de pensamentos intensos em como fazer dinheiro. Fica sabendo na escola que uma fazenda próxima da cidade, estava pagando um bom dinheiro para quem fosse cortar cana na fazenda. Lili ouve atenta aquela conversa e já sabe o que fazer ao sair da escola. Chega em casa, guarda o único caderno e de forma escondida, pega carona no caminhão de cortadores de cana de açúcar da fazenda que fazia duas viagens ao dia, uma ao raiar do dia e outra ao meio dia. Lili fica até às 18h cortando cana. Ganha um dinheirinho bom, porém ao retornar para casa leva uma boa surra do seu pai. Mais uma vez, Lili se põe a pensar e usar a criatividade para levantar a grana, para comprar suas “coisitas”; pois ela não aprendeu a pedir dinheiro aos seus pais, uma vez que desde os cinco anos faz a sua grana. Lili Aprende a desenhar letras góticas e começa a fazer títulos de trabalhos escolares para as colegas. Depois de 2 anos aprende a fazer crochê e costurar e dar aulas particulares para os próprios colegas. 

Vida boa, mas Lili quer mais. Um dia, vê em uma revista fotos da cidade de São Paulo. Encantada com os edifícios e a cidade grande, já começa a se imaginar morando em São Paulo e em quanto trabalho interessante pode fazer, além de estudar para aprender uma profissão que não fosse professora. Vale comentar, que nesta cidade do interior da Lili, a única profissão para mulheres é ser professora, embora ela já sabia datilografar, porque ganhou um curso de datilografia da amiga de sua mãe.

Em fevereiro de 1974, Lili chega com a família em São Paulo. Tudo novo, casa nova com televisão, geladeira e fogão elétrico. Já com seus 17 anos, Lili trata de encontrar uma escola pública para concluir o ensino médio, estudar a noite para trabalhar durante o dia. Para conhecer melhor a cidade, pega o ônibus do seu bairro em direção ao centro da capital e faz “bate-volta” só para entender o tamanho da cidade e como encontrar um emprego. Não é que na sua rua, vê uma placa na frente de uma empresa multinacional de grande porte, com uma vaga de auxiliar de escritório. Sem titubear Lili entra na recepção e pergunta sobre a vaga. Já preenche ficha, faz alguns testes de português e matemática, é aprovada e no dia seguinte segue para a matriz em Santo André fazer testes finais (comportamentais). Tudo certo, Lili vence a concorrência e já tem data marcada para iniciar, na próxima segunda feira. O contentamento é inexplicável, separa os documentos que deve entregar no seu primeiro dia de trabalho. Segunda-feira demora chegar, e logo cedo Lili veste seu traje de passeio (calça pantalona rosa e blusa preta), pega a pasta de documentos e sai radiante. Ao entregar os documentos no departamento pessoal percebe no semblante do atendente que algo não está certo. Em seguida é chamada numa saleta para receber “a bomba”: A empresa tem com regra não contratar pessoas com menos de 18 anos e a Lili tem apenas 17, aliás, completado 17 há pouco mais de 1 mês.

Tudo bem, Lili continua sua procura por emprego nas empresas próximas à sua residência. Não demora muito e já está empregada. A empresa é pequena, tem poucos benefícios e a Lili quer fazer faculdade no próximo ano, assim que terminar o colégio. Começa a usar o sábado para procurar em outras empresas, de grande porte, alguma oportunidade de trabalho. Descobre uma empresa de tratores, o mesmo que o seu pai usava no sitio onde viveu seus primeiros 11 anos, na roça. Já começa a sonhar e não é que o sonho se concretiza 6 meses depois. O pensamento empreendedor da Lili faz com que ela se movimente indo buscar o seu crescimento pessoal e profissional. Em ponto de ônibus, Lili vê passando aqueles carros com mulheres dirigindo e pensa que dentro de algum tempo ela também passará pelos pontos de ônibus dirigindo o seu carro.

Lili, estuda e aproveita todas as oportunidades e benefícios de uma empresa de grande porte multinacional. Casa, compra seu apartamento, carro, viaja por todo o Brasil e alguns países. Com a família completa de 2 filhas naturais, adota um sobrinho já com 12 anos e adota sua irmã mais velha especial com síndrome de trissomia 22, uma síndrome que segundo a ciência não vive mais de 14 anos e ela vive 67 anos. Lili, sempre em movimento e já sexagenária e aposentada por tempo de contribuição, continua trabalhando e descobre que não tem uma reserva financeira adequada. Busca um curso de Educação Financeira para melhor cuidar dos seus investimentos e, então, descobre que educação financeira trata de comportamento e fazer escolhas. O que deveria ter sido aprendido ainda quando criança. Nasce, então, mais um objetivo de vida: criar cursos para ensinar educação financeira nas escolas. O projeto em construção deverá ser lançado no ano de 2022 pela Lili e mais 3 colegas.

Com esta breve história da Lili, encerra-se este capitulo, com um convite à reflexão sobre educação financeira, conhecimento e movimento, para a construção de caminhos para uma vida plena e feliz.

Aguarde...